| LINDA MARTINI | Auditório ocupado na Baixa da Banheira

A "juventude sónica" na margem sul

O último disco, “Casa ocupada”, é de 2010. A empatia, ainda assim, continua a crescer. Desta vez, tomou conta do “Xangai”, no lançamento da Quinzena da Juventude no Município da Moita. Um dos melhores auditórios da margem sul do Tejo recebeu e brilhou como a estreia naquele palco de um dos mais acarinhados projetos nacionais da atualidade. Percebeu-se porquê. A “juventude sónica” está em grande forma.

Noite de Benfica-Porto na televisão. O grande jogo do campeonato. Para a hora do apito final do “clássico”, 22h, estava marcado o início do concerto dos Linda Martini no Fórum Cultural José Manuel Figueiredo, o excelente auditório municipal da moita, que, curiosamente, fica mais perto do Barreiro, cujo auditório, por outro lado, foi inaugurado em 2003 e está em obras (incompletas e paradas neste momento) há cerca de um ano. Não nos dispersemos. Demoraram um pouco a entrar no palco, os Linda Martini. Deram tempo àqueles que ficaram a ver a vitória portista na Luz (2-3). Arrancaram pelas 22h30, precedidos por um discurso efusivo, protestante, revolucionário, que abriu a Quinzena da Juventude da Moita.

Tonalidades escuras na dança das sombras

O quarteto lisboeta, que vai este ano a Barcelona representar Portugal no festival Primavera Sound, apresentou-se alinhado à largura do palco, com o baterista Hélio Morais na ponta direita. Arrancaram com um instrumental poderoso, revelando logo ali a força da percussão na música do grupo. A sala é preenchida por cadeiras e revela-se, por aí, pouco “ligada” ao concerto que ali vinha. O público, não. Rendeu-se aos primeiros minutos. Havia, na quase esgotada plateia, claros seguidores atentos da carreira dos Linda Martini. Não raras vezes, as vozes foram mais claras vindas das filas de trás do que das colunas à boca de palco.

“Estuque”, do álbum “Os olhos de Mongol” (2006), lançou o concerto, que à quarta música aterrou em “Casa ocupada”, o último disco do grupo. A imagem algo “nerd” da banda e a postura muito próxima dos agora retirados-por-tempo-indeterminado Sonic Youth acentuam a personalidade Indie-rock do grupo, muito influenciado pela corrente sónica americana do início da década de 90. Os Linda Martini, que têm curiosamente uma música intitulada “Juventude sónica” no último álbum, até partilham com a mítica banda nova-iorquina o facto de terem uma baixista: Cláudia Guerreiro, que revelou, curiosamente, a meio do espetáculo ter família na Baixa da Banheira.

Os temas da banda lisboeta são curtos, certeiros. Desviam-se em riffs estridentes, em solos, regressam com frases cantadas que obrigam a imaginar um significado. Provocam a plateia. Seduzem. A caminho do final, “Cem metros sereia” é fechada pelas vozes do público, que foi entoando até ao silêncio (e às palmas) a única linha de texto da letra: “Foder é perto de te amar/ se não ficares perto”.

Uma hora de concerto e nada mais

Pelas 23h27, anunciam o último tema, agradecem ao público e apresentam “O amor é não haver polícia”, do primeiro álbum, “Olhos de Mongol”. “Cantamos e dançamos como se fosse a última vez, o
último olhar, o último toque, o último beijo”, ouve-se aos primeiros versos da música de despedida. Ninguém acredita, porém, que será mesmo a última. Enganaram-se. Foi mesmo. Logo depois da saída de palco, as colunas foram tomadas pela música gravada dos Bizarra Locomotiva, as luzes acenderam-se, o concerto tinha acabado. Hélio Morais e Cláudia Guerreiro surgem à saída, na banca de venda de CD. São eles que vendem os próprios discos e, a quem o solicita, personalizam as capas com as respetivas rubricas. Ficou a apetecer-nos mais, mas ao mesmo tempo há uma sensação de satisfação. Foi, porventura, a medida certa de um concerto de Linda Martini. Um bom concerto. Tão bom que justificou a compra de “Casa ocupada”, o disco de 2010, a €10 a somar ao bilhete do concerto, a €8,93. Deve ser este o princípio da música: um bom concerto, público satisfeito, disco comprado.

Disco autografado por Hélio e Cláudia

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“Juventude sónica”, do álbum “Casa ocupada” e a 5.ª música do concerto
(Lisboa Agência, 2010)

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Uma resposta a | LINDA MARTINI | Auditório ocupado na Baixa da Banheira

  1. Paulo Gonçalves diz:

    Só faltou o amor é um combate…
    O Hélio revelou que foi para variar um bocado, sempre a tocar essa há 7 anos…

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